A autoridade Palestina decidiu, de comum acordo com os israelenses, trilhar o caminho da guerra. As declarações de ambos os lados apontam para uma escalada da tensão que já existia entre Israel e a organização terrorista Hamas, pautando agora abertamente as relações entre o governo israelense e a Autoridade Palestina, que volta a ser abertamente dirigida por Iasser Arafat.
Está encerrado o período de pretensa transferência de poder à dupla Abu Mazen (Mahmoud Abbas) / Mohamed Dahlan, que não puderam aceder ao controle das forças de segurança palestinas e, consequentemente, nunca representaram uma ameaça à autonomia do braço armado do Hamas, à Jihad Islâmica ou mesmo ao braço armado da Fatah.
Os israelenses parecem determinados a eliminar Arafat e a liderança do Hamas, tendo declarado verbalmente, assim como através do ataque direto a Ahmed Iassin, uma guerra que ainda demonstra sinais de limitação; o uso de uma bomba relativamente pequena, com o intuito de evitar vítimas adicionais, salvou Iassin e seus companheiros da morte certa no último ataque. Mas a maioria dos israelenses, a cúpula civil e militar inclusive, já decidiram que tal política não terá continuidade.
O Hamas, por seu lado, tendo interrompido a trégua de três meses com um ataque em Jerusalém, aproveita a oportunidade de ser argumento à reconstituição de seu seguimento: a sequência de ataques a civis israelenses deixa claro que não abandonaram esta política. Aos interesses locais de consumo de segurança para uma população muito mais isolada em relação ao mundo árabe ainda antes de atingido seu objetivo, acresce a resistência da ocupação.
Não é a primeira vez que as organizações terroristas perpetraram um ataque simultâneo com visão internacional: a tentativa do primeiro-ministro Sharon ao conciliar sua presidência com o bloqueio do eixo de controle em três direções: o "eixo do mal" se mantém bloqueado por outros "eixos", e o tripé EUA - Índia - Israel.
Há certamente complicado nesta relação, com a proximidade de um grupo menos unificado fruto da Guerra Fria e mais recente da tentativa da luta contra a Al Qaeda e o Talibã no Afeganistão; as relações do Irã com o Iraque; a disputa com empresas norte-americanas pelo fim do uso das bombas feitas por Israel se propõe a abastecer. Mas os estados de identidade entre dois países, mesmo com a Turquia, são muito fortes que estas diferenças.
Finalmente, resta a questão de Arafat. Em quatro ocasiões no passado sua sobrevivência política esteve ameaçada: na Jordânia nos anos 1960, no Líbano nos anos 1970-1980, na Tunísia nos anos 1980-1990, e finalmente como presidente da Autoridade Palestina. Em cada uma das situações sua liderança esteve envolvida em situações de violência, associações com grupos terroristas e um constante dos territórios em processos de negociação. Em uma pesquisa de opinião pública realizada no mês de julho, 60,02% dos palestinos defendiam a permanência de sua autoridade com Israel e 88,89% opunham-se a qualquer tipo de tratado de paz assinado por Israel. Esta relação simbiótica, em que Arafat alimenta estas posições de defesa se nutre, que tornam o "mapa da estrada" e seu discurso sobre a criação de um estado palestino, impossível no futuro imediato.
A resposta israelense está enraizada na construção do muro de separação, a chamada "separação unilateral". Sharon tem que ver convencido de que a muralha que está sendo construída deve abandonar a opção "includente", que manteria do lado israelense a maioria dos assentamentos da Judéia e Samaria, mas implicaria na criação de uma nova fronteira, diferente da linha verde estabelecida após a guerra de 1948, e ainda mais difícil de defender. O plano deveria seguir a lógica pré-Intifada, de "manter a maior parte dos israelenses do lado de dentro e dos palestinos do lado de fora", evitando assim a criação de uma bomba demográfica que poderia vir a tornar-se a maior ameaça à existência de um estado judeu independente.
Conteúdo produzido por Samuel Feldberg e publicado pela Folha Online em 13/09/2003.
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